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REDE MUNDIAL DE GEOPARQUES PROMOVE O TURISMO CIENTÍFICO E SUSTENTÁVEL PELO MUNDO. NO BRASIL, O ÚNICO REPRESENTANTE FICA NA CHAPADA DO ARARIPE.

Segundo a definição formal (e talvez um pouco hermética) do Serviço Geológico do Brasil, um geoparque “é uma área onde sítios do patrimônio geológico representam parte de um conceito holístico de proteção, educação e desenvolvimento sustentável”. Na prática, eles podem ter um quê de sítio paleontológico, uma pitada de reserva natural, certas características de point para caminhadas e outros esportes ao ar livre, mas misturam e transcendem todas essas categorias.

“Os geoparques possuem uma gestão diferenciada, que busca a valorização dos atrativos turísticos – não só geocientíficos – e possibilita a geração de renda e opções de desenvolvimento da economia local e regional de maneira sustentável”, explica Fernando César Manosso, geógrafo da Universidade Tecnológica Federal do Paraná e pesquisador do geoturismo.

Uma característica marcante é que os geoparques desenvolvem uma relação de simbiose com a comunidade local, pois abrangem as áreas onde ela vive. “Os geoparques podem e devem ter comunidades vivendo normalmente no interior dos seus limites. Eles buscam a conservação da natureza, mas não há cercas ou muros ao seu redor”, esclarece o geógrafo.

O estabelecimento de locais com essas características ganhou força em 2004, com a criação da Rede Global de Geoparques (GGN, na sigla em inglês), como parte de um programa da Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura (Unesco)

Até agora, fazem parte da GGN mais de 100 geoparques espalhados por 30 diferentes países. O Brasil é um deles: situa-se no sul do Ceará o Geopark Araripe, o primeiro reconhecido pela Unesco nas Américas e no hemisfério Sul.


Tesouro nordestino


Vista parcial do Geopark Araripe, o único geoparque brasileiro, localizado no sul do estado do Ceará. 
(foto: Geopark Araripe / Divulgação)

Único parque do gênero no país, o espaço foi criado com apoio da Universidade Regional do Cariri e abrange uma área de 3.441 quilômetros quadrados, distribuídos entre nove sítios geológicos localizados em seis municípios da região.

Uma das principais atrações é o museu no coração de Santana do Cariri, onde estão dispostos fósseis de diversas espécies que formavam a biodiversidade do local há milhões de anos. Peixes, troncos petrificados, artrópodes e dinossauros fazem parte do acervo exposto ao público. Além disso, o museu promove atividades educativas e de escavação paleontológica.

Desde a criação do geoparque em 2006 – antes, o local abrigava a Área de Proteção Ambiental Chapada do Araripe –, observou-se que a estrutura das cidades locais começou a crescer em torno da atração. Guias turísticos, hotéis, pousadas e até empresas de bicicleta para trilhas surgem e crescem conforme o interesse e a procura dos visitantes. De acordo com Idalécio Freitas, geólogo e diretor executivo do Geopark Araripe, a comunidade se beneficia de maneira sustentável. “A bacia hidrográfica do Araripe é testemunha do nascimento do nosso continente, atrai pesquisadores e turistas do mundo todo”, celebra.

Para o geógrafo Fernando César Manosso, a valorização da geodiversidade local, bem como a sua conservação, e a geração alternativa de renda para a comunidade são aspectos positivos da implantação dos geoparques. Mas há um lado perigoso: a vulnerabilidade de alguns locais pode levar ao comércio ilegal de fósseis e pedras semipreciosas, e alguns sítios mais frágeis, como cavernas ou formações geológicas sensíveis, podem se desmanchar com facilidade. Para o especialista, esses são os principais problemas a serem enfrentados pelos administradores locais. “Se houver o planejamento adequado para receber visitação, os geoparques irão gerar mais benefícios que impactos negativos para a região”, conclui.


Everton Lopes
Instituto Ciência Hoje/ RJ



Acessos em 24.08.15.

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